Acredito que ficou claro que a primeira menção bíblica ao dízimo foi aquela relacionada a Abraão; e a segunda, aquela relacionada ao voto de Jacó. Mas o primeiro mandamento bíblico do dízimo — que a rigor nem pode ser chamado de mandamento — só aparece em Levítico 27. Preste atenção nisto: quando eu digo que não pode ser chamado de mandamento, é porque Moisés está simplesmente comunicando um fato ao povo, nestes termos: Também todas as dízimas da terra (não se esqueça leitor, terra aqui se refere à terra de Canaã), tanto do grão do campo, como do fruto das árvores, são do Senhor: santas são ao Senhor. ...No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara do pastor, o dízimo será santo ao Senhor. É como se Moisés estivesse dizendo: O Senhor vai lhes dar a posse da terra de Canaã, mas as dízimas, não! Estas pertencem a ele! E em seguida, o livro de Levítico é encerrado com estas solenes palavras: São estes os mandamentos que o Senhor ordenou a Moisés, para os filhos de Israel, no monte Sinai. (Para os filhos de Israel, e não para a Igreja, viu?). Como diria um ex-árbitro e hoje comentarista de futebol: A regra é clara!
Tudo o que vem depois, relacionado ao dízimo, são as instruções do que fazer com ele: Quando dizimar, o quê dizimar, onde entregar e comer o dízimo, quem pode ou não pode comê-lo, como distribuí-lo.
Agora vamos raciocinar: Se esse mandamento do dízimo no capítulo 27 de Levítico é também para a Igreja, parece-me lógico concluir que tudo que foi ordenado nos capítulos anteriores também deve ser. Há pregadores que doutrinam seus seguidores a não comerem certos animais, porque são imundos ou impuros (os animais, não os seguidores!), com base nos preceitos do capítulo 11; mas nada ensinam sobre a purificação da mulher após o parto, como está disciplinado no capítulo 12. Todavia esse ritual de purificação estava também em vigência nos dias do Senhor Jesus, tanto que sua mãe, Maria, o praticou [Lucas 2]. E nadica de nada ensinam sobre o trato com a lepra e o leproso, que é ordenado nos capítulos 13 e 14. Também esse preceito estava em vigor nos dias do Senhor Jesus; tanto que após curar um leproso, mandava que ele fosse mostrar-se ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenara, para servir de testemunho ao povo [Mateus 8; Marcos 1; Lucas 5, 17]. E lepra e leproso existem até hoje, em menor escala, é bem verdade. Observou? Tira-se um ensino do capítulo 11, pulam-se os demais capítulos e lança-se mão do capítulo 27. Ou então, tira-se um ensino do capítulo 27, e desprezam-se os demais. Por que será? Será porque o dízimo traz vantagens pecuniárias imediatas para o próprio pregador?
A próxima menção ao dízimo está em Números 18, e tem também apenas caráter comunicante. Veja:
Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação. (Em Israel, e não na Igreja, viu?). E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação, e responderão por suas faltas: estatuto perpétuo é este para todas as vossas gerações. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.
No próximo item, vamos descobrir porque os filhos de Levi (os levitas) foram escolhidos, e descobrir também porque o dízimo foi dado a eles.