Duas curiosidades sobre o dízimo

Ao fazer a tal releitura da Bíblia, deparei-me com duas coisas muito curiosas a respeito do dízimo, as quais chamaram a minha atenção, e que eu vou lhe contar agora. Foi assim. Um dia, enquanto descansava de uma caminhada matinal, à sombra de uma frondosa árvore no campo, e com base na releitura de um texto que acabara de fazer, ocorreu-me uma extravagante e absurda pergunta, que ali mesmo elaborei nestes termos:

Onde na Bíblia, o dizimista foi instruído a beber pinga,
na casa de Deus, comprada com o dinheiro do dízimo?

Confesso que fiquei meio atarantado com essa possibilidade!

Alguns dias depois disso, criei coragem e fiz essa pergunta a um pastor. Ele pulou desta altura... e me disse com veemência: Não existe tal coisa na Bíblia! Caramba! E agora, será que eu disse uma asneira? Eu já estava assustado com o meu atrevimento, e fiquei mais ainda com a reação desse pastor. Porém outro pastor, equilibrado, sensato, conhecendo-me de longo tempo, a quem também fiz essa pergunta, pediu-me um prazo para pesquisar e responder. Dentro de alguns dias, telefonou-me dando a resposta. Ele havia achado o mesmo texto em que eu baseara essa pergunta! Não muito tempo depois, por telefone, eu fiz a dita pergunta a outro pastor. Disse-me ele que não sabia, e me pediu para indicar o texto. Insisti com ele, que procurasse. Mas ele me disse não dispor de tempo. Então sugeri que ele pedisse a um dos seus filhos para procurar para ele, ao que me respondeu: Não! Não posso deixar os meus filhos verem uma coisa dessas! Ele também tinha ficado assustado com essa possibilidade. Cinco anos depois, com euforia e com um largo sorriso, ele me deu a resposta. Não demorou muito, no velório de um pastor, encontrei um pastor conhecido que se fazia acompanhar de outro pastor (este estava vivo!), e lhes fiz a importuna pergunta. Eles responderam que não sabiam. Naquele mesmo instante se aproximou um professor de seminário; então o pastor disse: Este aqui sabe. Fiz-lhe a pergunta, e ele sem precisar abrir a Bíblia e sem pestanejar, deu a resposta certa na hora! Diante de tudo isso, a pergunta já não me pareceu tão extravagante e tão absurda.

E você aí que estuda a Bíblia, ensina, discipula, prega ou escreve sobre o dízimo, saberia dizer em que livro e capítulo fica o texto, em que se baseia essa importuna pergunta sobre essa tão difundida e defendida doutrina?

A segunda curiosidade que encontrei foi a oração do dizimista. Essa foi demais para mim. Eu nunca tinha ouvido ou lido qualquer coisa sobre essa oração. Não me ensinaram nadica de nada sobre ela. Ensinaram-me que tinha de pagar o dízimo de tudo, inclusive do meu salário bruto, pois se não pagasse estaria roubando a Deus e que, além de me privar das bênçãos, cairia nas maldições de Malaquias. E a todo o tempo, a oração do dizimista estivera lá na minha Bíblia — e deve estar na sua também —, conforme foi ordenado ao dizimista fazer! Como não pude enxergar tal coisa, se já havia lido a Bíblia muitas vezes? E aí, meu caro e assustado leitor, eu fiquei confuso, porque eu descobri que não poderia em sã consciência fazer essa oração para cumprir a ordenança bíblica, visto que se a fizesse estaria dizendo inverdades. Só o judeu podia fazê-la... e eu não sou judeu! Aí, entendi porque nunca me ensinaram essa oração e nem me falaram sobre ela. E lá vai o texto:

Dirás perante o Senhor teu Deus (esta é a oração do dizimista):

Tirei o que é consagrado de minha casa, e dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, segundo todos os teus mandamentos que me tens ordenado: nada transgredi dos teus mandamentos, nem deles me esqueci. Dos dízimos não comi no meu luto, e deles nada tirei estando imundo, nem deles dei para a casa de algum morto: obedeci à voz do Senhor meu Deus; segundo a tudo o que me ordenaste, tenho feito. Olha desde a tua santa habitação, desde o céu, e abençoa o teu povo Israel, e a terra que nos deste, como juraste a nossos pais, terra que mana leite e mel.

Quer ler novamente essa oração bem devagar e com redobrada atenção, e ver se há possibilidade de um cristão pronunciá-la hoje, palavra por palavra, como foi determinado ao dizimista fazer, e sem faltar com a verdade?

Encontrei um católico na Internet, que entendeu que não era possível ao cristão fazer essa oração; então ele inventou uma. Ei-la:

Oração do Dizimista

Recebei Senhor, minha oferta!
Não é esmola, porque não sois mendigo.
Não é uma contribuição, porque não precisais.
Não é resto que me sobra que vos ofereço.
Essa importância representa, Senhor, meu reconhecimento, meu amor.
Pois se tenho, é porque me destes.
Amém.

A intenção desse católico dizimista pode ter sido boa, mas foi ingênua, pois não atendeu as instruções transmitidas por Moisés: São estes os estatutos e os juízos que cuidareis de cumprir na terra que vos deu o Senhor, Deus de vossos pais, para a possuirdes todos os dias que viverdes sobre a terra. Nem satisfez a exigência feita por Deus: Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás [Deuteronômio 12].

Também não me parece apropriada nem condizente com a oração do dizimista, e muito menos ainda com o ensino evangélico, a oração de um bispo tupiniquim, que se diz dizimista fiel. Veja o seu testemunho: Imediatamente, como dizimista que sou, ergui o braço, em que uso a minha fita onde está escrito: “Ó, Deus! Não se esqueça que eu sou dizimista fiel”, e me pus a reivindicar os meus direitos. Orei: “Meu Deus, envia um anjo lá, agora, para resolver essa situação, pois, como dizimista, eu exijo uma solução. Amém”. (Grifei). [Folha Universal, n. 728, de 19 a 25 de março de 2006]. Esse bispo nem invocou o nome do Senhor Jesus, foi logo exigindo de Deus uma solução imediata para um problema, com base nos seus supostos méritos de dizimista fiel. Até parece um consumidor exigindo os seus direitos perante o fornecedor; ou alguém mandando o seu cão se deitar! Será que essa autoridade toda lhe adveio do fato de um bispo tê-lo consagrado bispo também? Achei essa oração muito insolente, estúpida e blasfema! Só porque alguém lhe deu o título de bispo, e ele carrega no pulso uma fitinha de dizimista fiel, deixou de ser servo do Senhor e passou a ser senhor do Senhor? Contenha-se, senhor bispo! Ou, como diria um político moderno: Recolha-se à sua insignificância!

Eu falei lá em cima que somente indicaria o livro e o capítulo. Mas nos dois casos citados acima, eu vou abrir uma exceção: não vou indicar nem o livro, nem o capítulo! Você que procure. Se você não achar, peça ao seu discipulador, pastor, bispo, apóstolo, paipóstolo ou patriarca (não sei se a ordem hierárquica é essa) para lhe mostrar os textos onde se encontram essas duas preciosas curiosidades.