Veja o que eu aprontei, recentemente, com alguns amigos. Perguntava a um e a outro: O que aconteceria com a sua igreja se, de repente, todos os membros e congregados deixassem de contribuir financeiramente? Resposta unânime: Encerraria as suas atividades e fecharia as portas. Muito bem, esqueça isso, vamos a outra pergunta: O que aconteceria com a sua igreja se, de repente, o Espírito Santo, entristecido, se apagasse e não atuasse mais na igreja? Resposta unânime: A igreja continuaria funcionando normalmente. Certíssimo: os clubes e as demais entidades funcionam maravilhosamente bem, sem o poder do Espírito Santo, só com o poder do dinheiro! Então tome cuidado. Quem sabe você está freqüentando um clube e pensando que é uma igreja? Qual a mensagem central dessa igreja? É a mensagem primeira de João Batista, do Senhor Jesus e de Pedro: Arrependimento [Mateus 3, 4; Atos 2, 3], ou é aquela que visando à arrecadação de dinheiro ameaça, acusa e amaldiçoa?
Sei que o dinheiro não é tudo, mas não o subestimo. Eu estou ciente de que ele é bom e necessário. Mas não podemos esquecer da advertência paulina: O amor do dinheiro é raiz de todos os males. E os pastores e os crentes, mais do que ninguém, têm de saber administrar isso. Não podemos deixar Mamon — essa entidade maligna — nos dominar. Há igrejas por aí que mais parecem agências arrecadadoras de dinheiro. Até parece que a finalidade delas é angariar dinheiro. E para isso usam todos os recursos possíveis e impossíveis. E aqui, cabem algumas perguntas: Será que igrejas e/ou pastores precisam de time de futebol? Quadra de esporte? Banco (instituição financeira)? Serviço de segurança armada no templo? Carro blindado? Segurança particular?
A propósito disso, vou lhe contar um episódio. Certo pastor — dissidente, como centenas que há por aí; pois dissidência e divisões se tornaram moda no meio evangélico — me convidou para ir ao culto na sua igreja, pois havia um poderoso pregador (discípulo de outro mais poderoso ainda) que fazia milagre. E era milagre milagroso mesmo! Ele orava e os anjos vinham e trocavam o órgão da pessoa que estivesse doente: coração, fígado, rins etc. Era uma nova unção, chamada Cirurgia Divina. Fomos, minha esposa e eu. Naquele dia, ele ia somente ministrar curas. Chamou as pessoas doentes à frente. Quase todos compareceram. Isso porque se você reunir dez mil pessoas e perguntar quem sofre de algum mal, quase todo mundo vai levantar a mão! Fui conferir. O pregador perguntava à pessoa de que doença ela sofria, e ordenava que ela fechasse os olhos e ficasse em pé e bem relaxada. Ele ia orar e ela seria anestesiada pelo anjo. Atrás, havia um “apanhador” para segurá-la. E depois de tocada (ou empurrada?) pelo pregador, a pessoa ia para o chão. Chamou-me a atenção o timbre da voz do taumaturgo: era arrastada e cavernosa, como se estivesse sendo distorcida pelo controlador do som. Cai um aqui, cai outro ali, e dentro em pouco estava quase todo mundo estirado no chão. E os anjos começaram a operar sob o comando dele. Ele disse que uma senhora estava sendo tocada pelo anjo e já estava com as mãos frias. Fui verificar. Estava mesmo (com as mãos frias!). A garota do lado se virou, porque o anjo ia operar a sua coluna. Aquele outro tinha problema de hérnia. Mais um, com problema na vista. E os anjos cirurgiões iam operando. Esses anjos foram instruídos a deixar marcas, cicatrizes, como prova de sua intervenção. Terminada a tarefa dos anjos, o taumaturgo despertava os pacientes contando até três e estalando os dedos, naquele gesto típico do hipnotizador. Em seguida, o pastor local chamou o doutor fulano de tal, médico especialista em não sei mais em quê, e pediu que ele fosse com os homens a um local reservado, para verificar se os anjos tinham deixado evidências. As mulheres foram levadas para outro lado. Fiz sinal ao pastor e pedi permissão para acompanhar o doutor. Autorizado, acompanhei o doutor e logo perguntei o seu nome, e ele, mais que depressa, me disse que não era médico, era enfermeiro! Examinamos os pacientes, mas não vimos nenhum sinal, nenhuma cicatriz; e os pacientes, por sua vez, também não tinham sido curados e nada sentiram de diferente.
No dia seguinte, voltei com meu genro. Quando chamados, vieram os doentes para serem curados. Eram praticamente as mesmas pessoas da noite anterior. Fiquei de olho! E lá foram elas para o chão. Nessa noite, tive como observar e constatei que o taumaturgo colocava a mão na testa da pessoa e a empurrava, enquanto o acólito a amparava. Tudo como dantes, no quartel de Abrantes! Desculpe, não foi bem assim. Houve um detalhe curioso. Na hora de despertar os últimos pacientes, o milagreiro fez uma pausa e se voltou para os presentes e disse: Quero mostrar como os anjos respeitam os nossos votos. Então, chamou os que tinham o envelope já com a oferta para irem até o paciente deitado no chão e tocar com o envelope na cabeça dele, que de imediato o anjo o liberaria. Mas nesse momento, o próprio taumaturgo contava até três e estalava os dedos, repetindo o mesmo gesto da noite anterior. Na hora da perícia, nem precisei pedir permissão para acompanhar o anunciado doutor; o pastor me escalou também. Lá fomos nós. E nada de sinal, cicatriz ou qualquer evidência, ou cura.
Depois que voltei dos exames, vi que o pastor local começou a dar glórias e aleluias em voz alta. Uma mulher tinha sofrido uma cirurgia de varizes, e o anjo cirurgião havia deixado cicatriz, ele disse eufórico. Fomos conferir: meu genro e eu. Enquanto nós examinávamos a perna da paciente, o taumaturgo disse ao microfone: Examina aí doutor! Naquele instante, o auditório ficou sabendo que havia ali mais um doutor! Mas eu não sou médico. Costumo dizer que sou apenas doutor de papel: sou advogado. E, agora, nem isso. Pois estou com setenta e um anos e me aposentei; e já estou com o prazo de validade vencido, porque de acordo com o IBGE, a vida média do homem brasileiro é de 71 anos! E como disse o velho Moisés, estou na idade da canseira e enfado [Salmo 90]. Examinando cuidadosamente, constatamos que o sinal existente na perna da mulher era somente um sulco feito pela costura das calças que ela usava, à semelhança do que suas meias sapatilhas tinham deixado nos seus tornozelos. Ela tinha permanecido muito tempo deitada com uma perna sobre a outra!
Na noite seguinte, não pude voltar para ver mais milagres. Mas na semana seguinte, encontrei o pastor local, e comentei com ele o fato, dizendo-lhe que, na primeira noite, eu tinha ficado com a impressão de que o pregador era um picareta. Mas que, na segunda noite, fiquei com a certeza de que ele era vigarista! Então exortei o pastor conivente a não fazer esse tipo de coisa, ao que ele me disse: Mas doutor, eu precisava de levantar dinheiro para pagar o aluguel! Descobri que este era vigarista também! Mas não adiantou. Dentro de poucos dias ele fechou a igrejinha.
Para você que ainda não conhece, vou contar, em rápidas palavras, uma vigarice internacional.
Tive informação a respeito de uma mulher uberabense, que estava fazendo prodígios e sucesso nos Estados Unidos e em algumas cidades da Europa. O Senhor manifestava e os anjos punham ouro em pó na cabeça dela, de onde ela tirava e distribuía com os pastores e os irmãos. Cinco meses depois, tive notícias de que ela estava no Brasil. Um amigo a convidou para dar seu testemunho em Brasília, e ficou acertado que ela ficaria hospedada na minha modesta casa. Veio para ficar de terça a sábado, mas voltou na quarta-feira de manhã para a sua casa, em Uberlândia, onde passara a residir. Apesar do laudo que atestava que aquilo era ouro puro, o qual — afirmara ela — tinha sido fornecido por um dos maiores laboratórios de geologia de Washington, o seu ouro não passava de glitter, ou seja, pedacinhos de poliéster (plástico) dourado, que não resistiram ao calor de um palito de fósforo. Mas atrás dela, já tinham caminhado (quase de quatro) um bom grupo de crentes, pastores, bispos e apóstolo.
Cinco meses depois, por telefone e por intermédio de um intérprete, consegui falar com o autor do laudo: Daniel Roberts. Era apenas um modesto joalheiro da Virgínia, USA. Ele tinha examinado o ouro em pó somente olhando-o no microscópio. Ateou-lhe fogo, e o ouro se consumiu, e mesmo assim teve o desplante de afirmar que era ouro 24 quilates!
Ela se mudou (ou se mandou) para os Estados Unidos, onde continua fazendo grande sucesso. Se quiser mais informações sobre ela, busque na Internet. Pesquisando no Google “venefredo barbosa vilar”, você vai achar um artigo que escrevi sobre o episódio. Foi traduzido para o inglês e para o francês.
Esse tipo de coisa atrai muita gente, e onde há muita gente há muitos tostões... e de grão em grão a galinha enche o papo e o pregador enche a burra!
No ano passado, num programa de TV, vi um procedimento que não envolvia explicitamente o dinheiro, mas ia criar todas as condições favoráveis para um bom faturamento: reunir muita gente, mistificar, mexer com as suas emoções e extrair a grana.
Foi assim. O pastor mostrou umas taças, nas quais, segundo informou, havia as especiarias para a elaboração do Óleo ou Azeite da Santa Unção. Numa taça maior seria feita a mistura. Ele ia preparar o óleo, e as pessoas deveriam ir à igreja para serem ungidas e abençoadas. E, então, para legitimar a sua atitude e convencer seus telespectadores, leu alguns versículos em Êxodo 30. Estranhei tal coisa, e raciocinei: Se é correto preparar esse óleo, em nossos dias, para ungir as pessoas, então deve ser legítimo também construir um tabernáculo, um altar, uma bacia de bronze, fazer o incenso, pois tudo isso está ordenado no mesmo pacote. Veja a habilidade do tal pastor. Ele leu do verso 23 ao 25 e pulou para o verso 29. (Dei-me conta agora de que quebrei a minha promessa de não citar os versículos! Desta vez, passa). Então, a leitura fez sentido. Ficou assim:
Disse mais o Senhor a Moisés. Tu, pois, toma das mais excelentes especiarias, de mirra fluida quinhentos siclos, de cinamomo odoroso a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveira um him. Disto farás o óleo sagrado para a unção, o perfume composto segundo a arte do perfumista: este será o óleo sagrado da unção. Assim consagrarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo.
Desconfiado da sua homilética, fui conferir na Bíblia e li os versículos que ele havia pulado:
Também ungirás a Arão e a seus filhos, e os consagrarás para que me oficiem como sacerdotes. Não se ungirá com ele o corpo do homem que não seja sacerdote, nem fareis outro semelhante, da mesma composição: é santo, e será santo para vós outros. Qualquer que compuser óleo igual a este, ou dele puser sobre um estranho, será eliminado do seu povo.
Movido de ira quase santa, fui à Internet e enviei um e-mail para a sua igreja, comentando o ato sacrílego desse pastor, e indagando se ele seria picareta ou vigarista, pois proposital e jeitosamente pulara os versículos que o proibiam de fazer tal coisa, e montara um texto favorável ao seu intento!
Ainda não recebi nenhuma resposta. Estou aguardando.
Até quando essa caterva de pregadores vai enganar o povo?
Espero que não inventem daqui a pouco fazer vestes especiais para os pregadores, no modelo das de Arão e de seus filhos [Êxodo 28]; porque alguns já usurparam a bênção sacerdotal privativa deles [Números 6, I Crônicas 23]:
Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel; dir-lhes-eis:
O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto, e te dê a paz.
Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.
E muito menos inventem fazer trombetas de prata e serpente de bronze, como foi ordenado também a Moisés fazer [Números 10, 21]! Senão, daqui a pouco a Graça já não será mais Graça, a Nova Aliança será anulada, e voltaremos à Lei, à Velha Aliança, celebrada com os judeus, esse escrito de dívida já cancelado, removido e encravado na cruz [Colossenses 2].