Bom, a minha proposta inicial não incluía as ofertas, mas como Malaquias 3 as menciona juntamente com o dízimo, vamos ver alguma coisa sobre isso também. Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
Acredito que ficou claro para você que os preceitos sobre o dízimo, que acabamos de ver, eram para os filhos de Israel. Bem, se as ofertas vêm junto, devem ser também para eles.
Em que consistiam essas ofertas? Acho que, quando falamos em oferta, vem à nossa mente a idéia de alguns trocados.
Vamos consultar as instruções que Deus deu a Moisés, com relação a ofertas: Fala aos filhos de Israel (aos filhos de Israel, e não à Igreja!), e dize-lhes: Quando algum de vós trouxer oferta ao Senhor, trareis a vossa oferta de gado, de rebanho ou de gado miúdo [Levítico 1]. Quando alguma pessoa fizer oferta de manjares ao Senhor, a sua oferta será de flor de farinha; nela deitará azeite, e sobre ela porá incenso [Levítico 2]. Se a oferta de alguém for sacrifício pacífico; se a fizer de gado, seja macho ou fêmea, oferecê-la-á sem defeito diante do Senhor [Levítico 3]. E assim por diante, até o capítulo 7. Essas ofertas tinham o caráter de sacrifício expiatório de pecados. E até aí não se falou diretamente em oferta em dinheiro. Vemos oferta de gado, de rolas ou pombinhos, de manjares (comida); ora de bolos asmos (sem fermento); ora de pão levedado (com fermento).
E por falar em fermento, abro aqui um parêntese — ou melhor, mais um parêntese, pois já abri e fechei muitos nos textos acima—, para lhe contar um ocorrido... e mais outro!
(Parêntese aberto — Quero lhe contar o que eu vi alguém aprontar de improviso numa igreja, a que fui pela primeira vez. Isto vai mostrar como às vezes ficamos perdidos, quando, sem maior discernimento, tentamos introduzir algum procedimento do Velho Testamento nas práticas da igreja. Era dia de celebração da Ceia. E quando o celebrante estava a caminho do templo — foi ele quem noticiou isto —, resolveu que o pão e o vinho a serem distribuídos deveriam ser sem fermento. Ele acabara de receber essa revelação do Espírito Santo, afirmou. Mas ele não dispunha no momento do pão asmo (sem fermento), então ia ser mesmo com pão comum, levedado (com fermento). Para o vinho, ele conseguiu a solução: passou num boteco e comprou uma garrafa de suco de uvas; mas provavelmente não se deu conta do conservante, do acidulante e de outros antes, que ele continha. Então, aquela Ceia ficou mista: um elemento sem levedura e outro com levedura. Da próxima vez, disse ele, faria a coisa certa, como está na Bíblia! Eu fiquei pasmo com aquilo.
Diante desse fato, ocorreu-me que somos todos muito crianças em matéria de igreja. Ainda não pusemos de lado os princípios elementares da doutrina de Cristo, e nos deixamos levar para o que é perfeito, como nos recomenda o autor da carta aos Hebreus [capítulo 6]. Você já se deu conta de que até hoje não sabemos nem como celebrar a ceia, nem como realizar o batismo? Uma igreja celebra a ceia todo dia; estoutra, todo mês; aquela, uma vez por ano; e há ainda quem nem a celebra. Uma celebra com vinho; outra, com suco de uva. Esta batiza por aspersão (ou seria por afusão?), essa outra por imersão. Aqui se imerge uma vez; ali, três. Aqui, a fórmula é em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ali, somente em nome do Senhor Jesus! E então, como não chegávamos a um consenso, fizemos cara feia, brigamos, dissemos umas e outras para os irmãos, nos separamos, e criamos mais uma denominação. E foi justamente lendo o Velho Testamento, que me dei conta de uma coisa: Na dispensação da graça, Deus não parece estar interessado na minúcia dessas fórmulas! Sabe como cheguei a esse pensamento? Vou contar.
Lá no Velho Testamento, as coisas eram ordenadas por Deus e explicadas tintim por tintim — afinal, o povo era ainda muito criança, como expliquei no item Como investigar. As coisas tinham de ser feitas do jeitinho que ele mandou, pois elas eram sombras de realidades futuras. Tomo como exemplo, a construção do tabernáculo, ou seja, o templo móvel, que Deus ordenara a Moisés fosse construído juntamente com os seus móveis e utensílios. As instruções estão em Êxodo, começando no capítulo 36. E vieram bem detalhadas: O comprimento das cortinas era de vinte e oito côvados, a largura, de quatro. Cinqüenta alças de estofo azul. Cinqüenta colchetes de ouro. As tábuas para as paredes eram de madeira de acácia, medindo dez côvados de comprimento, e côvado e meio de largura. O véu era de estofo azul, púrpura e carmesim, e de linho fino retorcido. Aqui uma peça é de madeira, ali, de ouro. A moldura tem quatro dedos de largura. E a arca, o propiciatório, a mesa, o candelabro, o altar de incenso, o óleo e o incenso, tudo explicado detalhadamente. Aliás, dizem os textos que Deus mostrou a Moisés até a maquete do tabernáculo e dos seus móveis: Segundo a tudo que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis. Vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte [Êxodo 25, 26]. No Novo Testamento, não. Nele, o que deve prevalecer é o bom senso — Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas [1Coríntios 6]. É a obediência — Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância [I Pedro 1]. É a misericórdia, a bondade, a humildade, a mansidão, a longanimidade, o perdão, o amor — Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isso, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição [Colossenses 3]. É a orientação do Espírito Santo. Esses nos haveriam de conduzir no procedimento certo.
Ah, você suspira desejoso de que tudo tivesse sido explicado minuciosamente à Igreja, para fazermos do jeitinho que Deus quer? Pois eu digo para você: Ainda que ele tivesse explicado tudo e mostrado a maquete, nós daríamos um jeito de fazer diferente. Quer ver? Acompanhei um vidraceiro amigo, que ia tirar as medidas dos vidros de um templo na zona rural. Além de nós dois, havia ali uma meia dúzia de irmãos, exultantes porque o templo estava nos finalmentes. E, eufóricos, nos contaram que o templo tinha sido construído por causa de uma revelação que receberam de Deus, que lhes ditara até as suas medidas exatas. Não duvidei. Porém, explicaram, como o dinheiro era pouco, construímos o templo com as medidas reduzidas!
Achou pequeno o exemplo? Dou um maior. Foi-nos mandado fazer uma coisa e dado o exemplo. Ele mandou: Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros. Ele deu o exemplo: assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Logo ali na frente ele repetiu: O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Mas nós não amamos como ele nos amou! Ele ensinou: Porque se perdoardes aos homens as sua ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. Ele deu o exemplo: Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Mas nós não perdoamos como ele nos perdoou! Não vou contar onde está, nem quem disse isso. Sabe por que? Porque todos nós sabemos de cor e salteado quem foi que disse isso, mas não fazemos o que ele nos mandou! E já faz bastante tempo que ELE reclamou da nossa desobediência: Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? — Parêntese fechado).
Vamos continuar nosso assunto das ofertas. Nesse ínterim, eu tive oportunidade de perguntar a uma pessoa, qual a idéia que ela fazia de ofertas na igreja. A sua resposta foi exatamente como conjecturei lá em cima: Uma importância em dinheiro que se entrega lá na igreja.
As ofertas também eram comidas. Algumas eram temperadas com sal; outras, privativas dos sacerdotes [Levítico 1, 6; Números 18]; ainda outras, o próprio ofertante tinha de comer, dentro de dois dias, pois se o fizesse no terceiro dia, não seria aceito e se tornaria abominável e levaria a sua iniqüidade [Levítico 7].
Havia, sim, ofertas em dinheiro. No caso, por exemplo, do recenseamento, em que todo aquele que fosse arrolado ou contado deveria pagar um resgate equivalente à metade de um siclo. Esse valor era o mesmo tanto para o rico quanto para o pobre [Êxodo 30]. O resgate do filho primogênito [Êxodo 13]. E a famosa oferta da viúva pobre, que lançou no gazofilácio duas pequenas moedas [Lucas 21].